TOCABARRO

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Desenforna no centoecatorze




Os resultados foram muito bons, as cinzas e a temperatura fizeram um bom trabalho.

Cozedura no centoecatorze 1311ºC



Esta cozedura foi para mim uma das experiências mais espantosas e durante a minha actividade de oleiro fiz muitas de cozeduras.
Costumo dizer em jeito de brincar que, um forno para cozer até 1000ºC qualquer um constrói sem ter grandes conhecimentos, mas um forno para alta já exige outros conhecimentos e experiência.
Nas últimas horas de cozedura, gerou-se entre nós e o forno uma espécie de jogo, ora cedo eu, grupo,( Marisa, Joaquim, Marc, Liliana e João)) ora cedes tu (forno). Cedo chegamos aos 1200ºC, mas quando fomos limpar o cinzeiro (retirar o carvão) entrou ar frio e houve quebra na alimentação, aqui começou este jogo, baixando a temperatura em cerca de 100ºC. daqui até ao final isto repetiu-se várias vezes mas com quebras de temperatura de valores inferiores.
Às 6h e 45m tínhamos atingido a espantosa temperatura de 1311ºC.

Dos 1000ºC até aos 1311ºC demorou cerca de 7horas dum total de 32, considerando que esta foi a primeira cozedura do forno.

Construção de forno no centoecatorze



No fim-de-semana do 25 de Abril estive com um grupo de amigos no espaço centoecatorze, do Joaquim e Marisa, a proceder á cozedura inaugural do seu forno de alta temperatura.
Este forno que era ambicionado pelos anfitriões, foi conseguido com a persistência e muito trabalho de ambos. Durante as semanas que levou a sua construção, puderam contar com a ajuda de muitos amigos que têm, uns com ajuda efectivamente significativa, e outros meramente simbólica, mas que não quiseram deixar de demonstrar a sua solidariedade. Em ambos os casos certamente apreciada pelos dois.

CORES DE FOGO

A louça preta, foi outrora produzida em vários centros oleiros de Portugal, assim como, na região de Barcelos.
Esta arte tão tradicional foi já extinta em vários desses centros e, em Barcelos já estava em risco de extinção. Com o objectivo de manter viva esta arte, esta cultura e, este testemunho artístico, do qual o homem é responsável, o oleiro João Lourenço, iniciou uma profunda investigação sobre este tipo de louça e as suas cozeduras.
O fascínio por este trabalho e pelos resultados obtidos nas peças cozidas em atmosfera redutora, levou-o a dedicar-se à produção de peças de louça preta e de peças cozidas em forno de serrim com sais.

Pastas e técnicas

As peças são realizadas com as tradicionais pastas de barro vermelho e, moldadas na tradicional roda de oleiro movida a pé.

Cozedura

A cozedura destas peças resulta da evolução de técnicas ancestrais, sendo as peças de louça preta cozidas pelo próprio oleiro, num forno de lenha construído por ele para esse efeito.
A cor negra que as peças adquirem resulta do facto destas serem submetidas a uma cozedura em atmosfera fortemente redutora.

A cozedura das peças com serrim e sais é realizada num pequeno forno, em atmosfera redutora ou parcialmente redutora. A presença de determinados sais na atmosfera do forno, permite a obtenção de efeitos e cores totalmente fascinantes, resultando assim peças verdadeiramente únicas.


As peças

Num verdadeiro dialogo entre o homem e a natureza, João Lourenço combina os quatro elementos
fundamentais (a terra, a água, o ar e o fogo) com a sua experiência e habilidade.
Deste dialogo e desta combinação resulta a criação de peças de autor, tradicionais e contemporâneas, que são apresentas nesta exposição.


Peças com diferentes formas, mas igualmente elaboradas com naturalidade artística, o que demonstra a simplicidade desta arte tão bela e ancestral.

>texto de apoio à exposição